Estamos a menos de 40 dias do início da Copa do Catar e nossa série que desde março revisita a história dos mundiais pela cobertura da imprensa brasileira chega ao primeiro mundial do século XXI. A Copa do Mundo de 2002 foi a primeira a ser disputada em dois países: Japão e Coreia do Sul se uniram para sediar o primeiro mundial conjunto e aqui no Brasil os jogos seriam em plena madrugada e em meio ao café da manhã.
Foi a Copa das zebras, a começar pelas eliminações precoces de França e Argentina. A seleção campeã mundial em 1998 chegou como grande favorita, mas não esperava um baque com a contusão séria de Zinedine Zidane a poucos dias da estreia. Sem Zizou a França perdeu o jogo de abertura para Senegal e empatou com o Uruguai. No desespero Zidane voltou pro jogo decisivo com a Dinamarca, mas sem totais condições de jogo o camisa 10 francês nada pôde fazer pra evitar a derrota. A seleção da Argentina caiu no chamado grupo da morte com Inglaterra, Nigéria e Suécia. Venceu os nigerianos, mas perdeu pros ingleses no jogo que ficou marcado pela vingança de David Beckham que havia sido expulso no jogo das oitavas na Copa de 1998 e empatou no último jogo contra a Suécia sendo eliminada na fase de grupos, o que rendeu uma capa sensacional do caderno de esportes do jornal O Globo no dia seguinte fazendo uma paródia com um comercial de uma empresa de cartão de crédito. A seleção da Coreia do Sul surpreendeu, ajudada pela arbitragem em duas partidas a seleção coreana terminou o mundial em quarto lugar.
A seleção brasileira passou por um suplício nas eliminatórias. Teve quatro técnicos na batalha pela vaga começando com Wanderley Luxemburgo que foi defenestrado após perder a chance da medalha de ouro nas Olimpíadas de Sydney e no meio de um escândalo onde falsificou a idade, depois veio Candinho, Emerson Leão e o tal futebol bailarino que desafinou tendo como símbolo desse período o volante Leomar que jogava no Sport Recife, mas que culminou com derrota pra seleção da Austrália na Copa das Confederações e a sua demissão ainda no aeroporto de Narita no Japão. Felipão assumiu o time como o salvador da pátria sem antes levar um vexame ao perder para Honduras na Copa América numa derrota muito mais vexaminosa que o 7 x 1. Aos trancos e barrancos Felipão classificou o Brasil pra disputa da Copa de 2002 e a partir daí a história iria mudar com sete jogos vitoriosos.
A estreia foi contra a Turquia na cidade coreana de Ulsan no dia 3 de junho no horário das 6 da manhã. O Brasil saiu atrás com Hasan Sas, mas no segundo tempo viramos com Ronaldo e Rivaldo num pênalti inexistente onde Luisão foi derrubado fora da área, mas o juiz marcou dentro.
O segundo jogo foi contra a China na cidade de Seogwipo e foi uma vitória tranquila de goleada. Os Rs brasileiros brilharam na goleada de 4 x 0 sobre os chineses com Roberto Carlos, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo.
O último jogo da fase de grupos foi contra a Costa Rica em Suwon e o Brasil venceu por 5 x 2 num jogo em que a defesa deu uma certa preocupação tomando dois gols, mas Ronaldo em dia inspirado marcou duas vezes com Rivaldo, Júnior e Edmilson num golaço completando o placar.
No primeiro confronto do mata mata tomamos um tremendo sufoco da Bélgica em Kobe no Japão, mas começava a aparecer São Marcos. Nosso goleiro pegou tudo e segurou as pontas lá atrás, na frente a dupla Ronaldo e Rivaldo resolveu e com gols deles que o Brasil avançou para as quartas de final.
Brasil e Inglaterra jogaram em Shizuoka e para muitos a partida foi a final antecipada. O Brasil saiu atrás com o gol de Michael Owen na infelicidade de Lúcio, mas conseguiu empatar ainda na primeira etapa com Rivaldo marcando tendo Ronaldinho Gaúcho em grande jogada no início driblando o marcador servindo de forma precisa pro camisa 10 e no começo do segundo tempo Ronaldinho cobrou falta, a bola pegou efeito e enganou o goleiro Seaman. Era o gol da virada, mas Ronaldinho Gaúcho quase pôs tudo a perder ao pisar em Mills e ser expulso direto. Com 10 em campo o Brasil segurou a seleção inglesa e avançava à semifinal.
Como em 1994 uma seleção que integrava o mesmo grupo do Brasil no caminho antes da final, desta vez foi a Turquia que foi nossa adversária na semifinal em Saitama. O Brasil dominou o jogo desde o começo. Ronaldo jogava de forma apática e chamava atenção o corte de cabelo ao estilo cascão e foi com gol de bico que ele colocava o Brasil de novo na final, a terceira seguida.
Brasil e Alemanha, dois gigantes que jamais haviam se enfrentado em Copa do Mundo decidiriam em Yokohama o primeiro mundial do século XXI. Naquela manhã de domingo, 30 de junho o país acordou cedo para torcer pela seleção contra o time que tinha Oliver Kahn, a muralha alemã. No primeiro tempo o jogo foi parelho com o Brasil tendo as melhores chances, no segundo tempo a coisa parecia ir se repetir, mas aos 22 minutos Ronaldo tomou a bola do defensor alemão e serviu Rivaldo que chutou forte, Kahn falhou e deu no pé de Ronaldo que arrematou, Brasil 1 x 0. O segundo gol surgiu em jogada de Kléberson que passou pra Ronaldo cortar o marcador e bater no canto direito de Kahn. Era o Brasil penta. Quatro anos depois do piripaque que teve Ronaldo dá a volta por cima e o Brasil conquistava a Copa com uma campanha brilhante de sete vitórias em sete jogos. Depois de Bellini, Mauro, Carlos Alberto e Dunga a taça foi erguida por Cafu que inovou na hora de receber o troféu subindo no púlpito onde estava a taça e dali declarou seu amor por Regina na inscrição 100% Jardim Irene em referência ao bairro onde foi criado e ergueu a taça em meio à chuva de papel picado no gramado.
A seleção voltou ao Brasil em festa e Brasília parou em 2 de julho para saudar os pentacampeões com uma festa inesquecível e com direito a uma cambalhota espalhafatosa de Vampeta descendo a rampa do Palácio do Planalto onde foram condecorados pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
A Copa de 2002 por ter sido de madrugada deu pra acompanhar, principalmente os jogos do Brasil, mas tudo isso em meio à uma tempestade terrível na qual eu atravessava por ter perdido minha coleção física de revistas e sofrer bastante com isso. Assisti aos jogos na casa dos meus tios e apesar de não colecionar mais as revistas pois entrei em abstinência logo depois da Copa, mesmo assim ainda consegui alguns jornais e montei álbuns semelhantes aos da Placar com pós jogo das partidas.
Nos jornais e revistas a cobertura sofreu impactos em razão da crise econômica e a segurança depois dos atentados de 11 de setembro. A revista Placar havia deixado de circular semanalmente (ela voltou a ser semanal em breve período entre abril de 2001 e janeiro de 2002) e voltou em edições especiais pós jogo, o jornal A Gazeta Esportiva deixou de circular em novembro de 2001. Os jornais mandaram equipes reduzidas. O Correio Braziliense lançou novo projeto gráfico de esportes, mas não teve caderno diário sobre o mundial separado do resto do noticiário. Os fotógrafos enviados para a Copa foram: Ivo Gonzalez e Hipólito Pereira pelo Globo, Alaor Filho, Paulo Pinto, Robson Fernandjes e Vidal Cavalcante pelo Estadão, Eduardo Knapp e Juca Varella pela Folha de São Paulo, Ricardo Correa e Alexandre Battibugli pela Placar.
- Campeão: Brasil. Depois de passar um tremendo sufoco nas Eliminatórias onde ficou ameaçado de não se classificar com quatro treinadores a seleção deu a volta por cima com um grupo que ficou conhecido como a Família Scolari. A campanha perfeita veio com sete vitórias em sete partidas disputadas. O time marcou 18 gols e sofreu apenas quatro
- Vice - campeã: Alemanha
- Países participantes: 32
- Gols: 161 - média de 2,52 por partida
- Jogos: 64
- Artilheiro: Ronaldo (Brasil) - 8 gols
No dia 26 de outubro nossa série entra na reta final destacando a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha.
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