Hoje a série Copa na Imprensa traz de volta o mundial de 1990 disputado na Itália.
A Copa do Mundo de 1990 disputada na Itália é considerada por muitos especialistas como um mundial onde predominou o futebol feio, o futebol de resultados e a maioria das seleções adotou um esquema tático que vigorava na Europa, o esquema de três zagueiros e a figura do líbero, por conta disto o mundial de 90 teve poucos gols resultando na pior média de gols de todos os mundiais.
O Brasil foi um desses times que adotou o esquema tático. Treinado por Sebastião Lazaroni o Brasil de 1990 fugia completamente das características ofensivas que caracterizaram o futebol brasileiro e o esquema tático implantado na Itália foi batizado de Era Dunga em razão do esforçado volante ser o símbolo desse período malogrado. O grupo rachou em razão de questões financeiras e na foto oficial antes do embarque pra Itália todos os jogadores tamparam o logotipo do patrocinador na época, o refrigerante Pepsi. A classificação pra Copa foi recheada de polêmica, pois no jogo contra o Chile no Maracanã o Brasil ganhou, mas o jogo ficou marcado pela farsa chilena do goleiro Rojas que fingiu ser atingido por um sinalizador disparado das arquibancadas do estádio por Rosenery Mello. Rojas cortou o supercílio com navalha, o Chile foi punido com a desclassificação do mundial de 94 e Rojas foi banido do esporte, já a fogueteira teve seus 15 minutos de fama ao posar nua para uma revista masculina e morreu em 2011.
Numa Copa pobre de futebol a alegria veio da África. A seleção de Camarões disputava seu segundo mundial da história pois em 82 por muito pouco não eliminou a Itália e o destino daquela Copa seria completamente diferente. Os Leões Indomáveis foram bem longe na Copa e comandados por Roger Milla, na época com 38 anos Camarões surpreendeu o mundo logo no jogo inaugural derrotando a então campeã do mundo Argentina com gol de cabeça marcado por Oman Biyik e com a ajuda involuntária de Pumpido que soltou uma bola que parecia fácil. Camarões avançou de fase: nas oitavas derrotou a Colômbia e o lance capital foi a roubada de bola de Milla em Higuita, o folclórico goleiro colombiano que adorava jogar na linha e que nesse jogo se deu mal ao tentar driblar Milla ele perdeu a bola e o camaronês fez o gol. Camarões ficou nas quartas de final ao perder pra Inglaterra.
O Brasil estreou na Copa do Mundo no dia 10 de junho jogando contra a Suécia no estádio Delle Alpi de Turim. O Brasil venceu com dois gols de Careca, mas ficou claro e evidente que o esquema de Lazaroni não iria longe pois tomamos o gol de Brolin numa completa desatenção de nossa defesa.
O jogo seguinte contra a Costa Rica foi um festival de gols perdidos. Os costarriquenhos poderiam ter saído com uma sacola de gols, mas ficaram no lucro pois perderam só de 1 x 0.
O jogo contra a Escócia foi outro suplício e o gol de Müller foi o último que o Brasil fez na Copa.
Nas oitavas de final o Brasil tinha pela frente a Argentina no clássico sul americano antecipado. O Brasil fez o seu melhor jogo na Copa, criou uma infinidade de chances, meteu duas bolas na trave, mas do outro lado estava Maradona e num descuido fatal permitiram que o craque argentino mesmo sem condição de jogo driblasse dois e servir Caniggia que driblou Taffarel e marcar o gol aplicando a velha máxima do futebol de quem não faz, leva. O Brasil era eliminado precocemente da Copa na terceira pior campanha da história ficando atrás das Copas de 1934 e 1966.
A Copa seguiu e a Argentina mesmo com um time medíocre chegou à final, do outro lado estava a Alemanha que jogava com eficiência liderada por Lothar Matthaus e dirigida por Franz Beckenbauer. No dia 8 de julho as duas seleções voltavam a decidir a Copa no estádio olímpico de Roma e desta vez os alemães levaram a melhor. O único gol do jogo foi marcado por Andreas Brehme de pênalti. A Alemanha se juntava ao Brasil e a Itália com três títulos conquistados cada.
A Copa de 1990 foi a última que chorei, pois tinha de 12 pra 13 anos e assisti sozinho os jogos do Brasil pelo SBT numa velha TV Philco preto e branco, por causa do Amarelinho, o mascote criado pelo canal de Silvio Santos para interagir com o torcedor, aliás acho uma palhaçada a FIFA vetar esse tipo de coisa como bonecos animados e as assinaturas dos jogadores quando faziam gols na transmissão da Globo. Também ficou marcante pra mim colecionar figurinhas mesmo sem álbum, pois eu colecionava as figurinhas que vinham no chicle de bola Ping Pong, aliás na Copa de 86 as figurinhas eram transfers, era raspar como se fosse decalque e tava lá a figurinha. O álbum da copa de 82 do Ping Pong foi inesquecível, bem antes da febre dos álbuns da Panini.
A Copa de 90 para os meios de comunicação foi seriamente afetada pelo Plano Collor. Emissoras de televisão reduziram os profissionais que foram enviados à Itália, já na imprensa escrita o Estadão pela primeira vez publicava um caderno diário sobre o evento, mas o jornal não circulava às segundas feiras, fato que acabou em 1991 quando fez uma reforma gráfica e passou a circular diariamente em cores. O Correio Braziliense lançou seu caderno de esportes sobre a Copa que circulou só até o dia da derrota do Brasil, a revista Istoé que na época era Istoé Senhor repetiu uma prática adotada por Veja em 1970 ao publicar sua edição depois do jogo do Brasil e a revista Placar estava nos últimos momentos de sua primeira fase semanal pois as baixas vendas somados ao fracasso da seleção brasileira na Itália fizessem com que a revista saísse de circulação pra voltar em ocasiões especiais. Os fotógrafos enviados pelos meios de comunicação foram estes: Valério Ayres pelo Correio Braziliense, Aníbal Philot, Cezar Loureiro, Custódio Coimbra e Otávio Magalhães pelo Globo, Evandro Teixeira e Hipólito Pereira pelo Jornal do Brasil onde figurava na equipe um jovem jornalista que hoje é comentarista dos canais Sportv chamado Lédio Carmona, pelo Estadão foram os fotógrafos Carlos Fenerich, Edu Garcia e Fábio Moreira Salles, pela Folha o fotógrafo enviado foi Homero Sérgio e um dos repórteres da equipe era Chico Lang, atualmente comentarista da TV Gazeta de São Paulo, pela revista Veja o saudoso Orlando Brito, pela Placar foi o fotógrafo Pedro Martrinelli e Sérgio de Souza foi o fotógrafo enviado por Manchete.
- Campeã: Alemanha: A seleção dirigida por Franz Beckenbauer se igualava ao Brasil e a Itália chegando ao tricampeonato com um time liderado por Lothar Matthaus, Jurgen Klinsmann e cia. Foram sete jogos com cinco vitórias e dois empates.
- Vice - campeã: Argentina
- Brasil: Sebastião Lazaroni tentou inovar na seleção com um esquema altamente defensivo com três zagueiros, um esquema ao estilo europeu bem diferente do estilo brasileiro, mas fracassou. A chamada Era Dunga sucumbiu de forma melancólica com a derrota para a Argentina. Depois de uma primeira fase sem empolgar, apesar das 3 vitórias o time chegou ao duelo no mata mata e criou inúmeras chances de gol, mas Maradona em uma só jogada decidiu ao driblar dois marcadores e servir Caniggia que driblou Taffarel e adiar por mais quatro anos o sonho do tetra. Esta foi a pior campanha desde 1966.
- Países participantes: 24
- Gols: 115 - média de 2,21 por partida, a pior de todas, isso por causa das equipes adotarem sistemas defensivistas
- Jogos: 52
- Artilheiro: Salvatore "Totó" Schilacci (Itália) - 6 gols
A série volta em 14 de setembro pra relembrar de forma emocionante o tetra da seleção. É a série Copa na imprensa chegando ao mundial de 1994 nos Estados Unidos.
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