Hoje a série Copa na Imprensa traz a Copa do Mundo de 1986 disputada no México.
Inicialmente o mundial de 1986 seria disputado na Colômbia, mas problemas financeiros impediram o país sul americano de sediar o mundial. O México se ofereceu e foi escolhido em maio de 1983 para sediar o torneio pela segunda vez. Só que em setembro de 1985 um terremoto quase pôs tudo a perder. O país se uniu e em tempo recorde se reergueu para receber as 23 seleções do planeta. Foi uma Copa de grandes seleções como a França de Michel Platini, a Itália envelhecida e a sensação do mundial, a seleção da Dinamarca que ficou conhecida como Dinamáquina, um time de talentosos jogadores como os irmãos Michael e Brian Laudrup e do artilheiro e fumante inveterado Elkjaer. A máquina emperrou nas oitavas quando foi goleada pela Espanha. Mas o destino estava traçado para um jogador que quatro anos depois de ser expulso contra o Brasil fez dos gramados mexicanos o palco para desfilar sua arte. Diego Armando Maradona liderou a seleção da Argentina à conquista de seu segundo título mundial com jogadas de craque e gols. Dois deles contra a Inglaterra entraram pra história: o primeiro, marcado com a mão ou na definição dos argentinos, a Mano de Díos (Mão de Deus) e o segundo, uma obra prima onde pegou a bola do campo de defesa e foi avançando, driblando quem vinha pela frente e o toque de classe no gol inglês. Golaço que valeu pra ele o título de gol mais bonito de todas as Copas pela FIFA.
E o Brasil? O time voltaria a ser dirigido por Telê Santana, mas jogadores que brilharam em 82 não vinham em boa fase como Sócrates e Zico que um ano antes foi atingido por uma criminosa entrada que o obrigou a passar por uma delicada cirurgia e se recuperou a tempo, mas sem estar 100% na forma física. Durante a preparação houve um fato lamentável. No dia do embarque para o México o lateral Leandro desistiu de ir ao mundial em solidariedade à Renato Gaúcho que foi cortado da delegação. No México o time chegou a ficar sem campo pra treinar.
Diante de todos esses problemas o Brasil estreou na Copa contra a Espanha no estádio Jalisco de Guadalajara. O jogo foi duro e complicado pois a Espanha até hoje reclama da arbitragem do australiano Christopher Bambridge que não validou um gol de Michel em que a bola entrou e isso ficou provado pelo Tira Teima, novidade tecnológica da Globo na época, o bisavô do VAR. O Brasil venceu com gol de Sócrates.
O segundo jogo foi contra a seleção da Argélia. Um show de erros e outra vitória magra com gol de Careca colocaram o Brasil nas oitavas.
Para o terceiro jogo contra a Irlanda do Norte Telê tirou Edson e Casagrande do time e colocou um certo Josimar, então lateral do Botafogo, convocado de última hora e num petardo indefensável fez um golaço na vitória de 3 x 0. Careca marcou duas vezes.
Nas oitavas o Brasil encarou a seleção da Polônia e quem pensa que o jogo foi fácil apesar do placar de 4 x 0 se engana. O Brasil demorou a deslanchar, mas alcançou o equilíbrio com uma boa vitória. Sócrates, Careca, Edinho e Josimar fizeram os gols.
E em 21 de junho veio o jogo contra a França. Um verdadeiro duelo de titãs num jogo memorável. As duas equipes jogavam e deixavam jogar num jogo leal sem registro de falta violenta e cartões. O Brasil saiu na frente com Careca, mas Platini empatou o jogo. Foi o único gol que o goleiro Carlos sofreu em toda a Copa. Foi então que outro fator entrou em campo, a sorte. No segundo tempo Zico entrou em campo e veio o lance que mudou tudo. Branco foi lançado e derrubado por Bats. Pênalti e a chance do Brasil passar de novo à frente, mas Zico bateu mal e o goleiro defendeu. O jogo seguiu e por 120 minutos luta e entrega não faltaram e então veio a loteria dos pênaltis para decidir quem seguia na Copa. Logo no primeiro pênalti brasileiro Bats espalmou o chute do Doutor, depois os cobradores foram acertando e num dos pênaltis a bola chutada por Bellone bate nas costas de Carlos, na trave e entra. Era a sorte indo pro lado francês, mas Platini isolou a chance e aí foi a vez da sorte bater na porta do Brasil, só que Júlio César chutou com tanta vontade a bola que explodiu na trave e coube à Luiz Fernandez decretar o fim do sonho do tetra brasileiro. A França venceu a série por 4 x 3 e mais uma vez o tetra foi adiado. Para Telê e a geração de craques foi o fim da linha.
A Argentina foi em frente depois de vencer os ingleses e belgas chegando à final contra a Alemanha que derrotou a França. O estádio Azteca foi de novo palco de uma final de Copa do Mundo e foram cinco gols eletrizantes. A Argentina saiu na frente com Brown e abriu 2 x 0 com Valdano, mas a Alemanha foi buscar o empate com Rummenigge e Voeller, mas Maradona estava ali pra desequilibrar. Num passe magistral ele serviu Burruchaga que foi avançando pela direita e tocar na saída de Schumacher. Argentina bicampeã. Pela segunda vez um árbitro brasileiro apitou a final e a honra coube a Romualdo Arpi Filho.
Minha terceira Copa do Mundo que vi terminou em lágrimas. Não me esqueço do jogo entre Brasil e França onde todos assistiram juntos na antiga casa 30 da Quadra 3 Conjunto G de Sobradinho onde morava e após o final da partida chorei, chorei sim. Naquela casa onde morei até 1999 e que minha avó morou até o ano passado assistimos muitos jogos do Brasil em Copas do Mundo e esse de 1986 me marca até hoje.
Repetindo 82 os jornais brasileiros publicaram cadernos diários sobre o mundial sendo que O Globo na ocasião estreava uma nova tipologia gráfica em seu caderno especial sobre a Copa e que depois seria implantada em todo o restante do jornal que vigorou até 1995. Os fotógrafos que foram ao México foram Lúcio Bernardo pelo Correio Braziliense, Aníbal Philot, Hipólito Pereira, Sebastião Marinho e Luiz Pinto pelo Globo, Ari Gomes, Almir Veiga, Alberto Ferreira e Delfim Vieira pelo JB, Domício Pinheiro e Reginaldo Manente pelo Estadão, Jorge Araújo pela Folha, Jorge Rosenberg pela revista Veja, Ricardo Chaves pela Istoé, Gil Pinheiro pela Manchete, Pedro Martinelli, Sérgio Sade e Sérgio Berezovsky pela Placar.
- Campeã: Argentina. Com o talento de Maradona a seleção hermana ganhava seu segundo mundial com uma campanha de seis vitórias e um empate.
- Vice - campeã: Alemanha
- Brasil: Telê Santana voltava a dirigir a equipe, mas não se repetiu o futebol arte de 82, mas o Brasil chegou até as quartas de final quando num jogo emocionante foi eliminado nas cobranças de pênalti pra França.
- Países participantes: 24
- Gols: 132 - média de 2,54 por jogo
- Jogos: 52
- Artilheiro: Gary Lineker (Inglaterra) - 6 gols
A série prossegue no dia 31 para relembrarmos a Copa do Mundo de 1990 na Itália, a Copa de futebol pobre e do fracasso da Era Dunga.
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